Citroën faz 100 anos: conheça a história da marca francesa
Criada pelo industrial francês André Citroën em 1919, marca produziu automóveis icônicos: enumeramos os mais inovadores
Criada pelo industrial francês André Citroën em 1919, marca produziu automóveis icônicos: enumeramos os mais inovadores
Chegar aos 100 anos é coisa para poucos, inclusive para as empresas do setor automotivo. Pois a Citroën é a última a entrar no grupo das centenárias, que conta com outros nomes de peso, entre os quais Mercedes-Benz, Ford, Chevrolet, Fiat, Alfa Romeo, Peugeot e Renault. Desde 1919, quando foi criada, a marca construiu uma trajetória marcada por inovações e por alguns percalços.
Tudo começou quando André Citroën desenvolveu um tipo de engrenagem com dentes em formato de V, mais de 100 anos atrás. Foi justamente essa invenção que se tornou, posteriormente, o símbolo da Citroën, já batizado de duplo Chevron. Fez tanto sucesso que logo passou a ser fabricada em larga escala. O criador havia, então, dado o primeiro salto como empresário. Durante a Primeira Guerra Mundial, começou a produzir armamentos, em conjunto com outros industriais franceses.
André Citroën entrou no então promissor ramo de automóveis há exatos 100 anos. O empresário simplesmente aproveitou parte de suas instalações fabris, ociosas após o conflito, e iniciou uma empreitada própria. O resultado foi o primeiro carro da marca, batizado simplesmente de “Tipo A”, lançado em 1919.
O fundador da Citroën não costumava poupar gastos com novas tecnologias. Isso teve um lado ruim: André fez muitas dívidas ao investir em fábricas ao longo da década de 1920. A crise de 1929 acabou tornando-as impagáveis, e a empresa teve falência decretada. O industrial acabou transferindo as próprias ações para a família Michelin, que fornecia-lhe pneus, em 1934.
Esse foi justamente um dos últimos capítulos da trajetória de André Citroën. Ele morreu em 1935, aos 57 anos, vítima de um câncer de estômago. Porém, ainda pôde ver o sucesso de seu último produto, que chegou ao mercado em 1934: o Traction Avant. Foi o primeiro carro icônico da marca. A seguir, conheça os modelos da fabricante do duplo Chevron que marcaram época!
Sabe por que o Traction Avant tinha esse nome? Sim: ele dispõe de tração dianteira. Comum atualmente, essa solução era inédita em 1934, quando o veículo foi lançado. Graças ao tipo de tração, associada ao centro de gravidade baixo e à suspensão independente, o modelo tinha estabilidade exemplar. A segurança em curvas era tanta que rendeu até uma lenda. Dizia-se que clientes que sofressem um capotamento ganhariam um carro novo da Citroën.
Além de ter sido o primeiro automóvel produzido em massa com rodas dianteiras motrizes, Traction Avant inovou ainda no projeto estrutural da carroceria, que já era do tipo monobloco. Consequentemente, o modelo tinha ótimo espaço interno, com direito a assoalho plano.
A Citroën o vendia em diferentes configurações de carroceria: Légère (com quatro portas), Familiale (com entre-eixos alongado), Coupé e Cabriolet. As opções de motorização eram duas: quatro cilindros (conhecido como 11 CV) e seis cilindros (15 CV).
As soluções técnicas inovadoras fizeram com que o Traction Avant tivesse vida longa. Só foi descontinuado em 1957, o que significa que a produção durou 23 anos. Ou seja, a Citroën o fabricou por quase 1/4 do tempo de sua trajetória de 100 anos!
Ainda na década de 1930, a Citroën já desenvolvia um veículo acessível, para ser posicionado abaixo do Traction Avant. Porém, alterações no projeto e, principalmente, os esforços industriais demandados pela Segunda Guerra Mundial fizeram com que o lançamento só ocorresse em 1948.
O produto acabou caindo como uma luva para o mercado europeu da época. Arrasado fisicamente e financeiramente pelo conflito, o continente necessitava de veículos baratos e fáceis de se manter. Justamente como o 2 CV (Deux Chevaux).
Trata-se de um carro pequeno e rústico, mas extremamente simples e prático. O capô era de chapa nervurada, havia só uma lanterna traseira e, no teto, havia uma capota de lona, que cobria também o porta-malas. O motor de dois cilindros, refrigerado a ar, compensava o baixo desempenho com grande economia de combustível.
O 2 CV logo tornou-se figura fácil tanto nas cidades francesas quanto no campo, onde sua suspensão era muito apreciada. A arquitetura do sistema era incomum, com um mecanismo hidráulico que interligava as quatro rodas, o que permitia ao carrinho trafegar por caminhos difíceis. Dizia-se que ele podia cruzar uma lavoura ou um pasto transportando uma caixa de ovos sem quebrá-los!
A popularidade do 2 CV foi tamanha que a produção, iniciada em 1949, só foi interrompida em 1990. Sim, a Citroën o manteve em linha por quase metade de sua jornada de 100 anos. O carrinho foi produzido também em outros países, inclusive na Argentina.
Criatividade realmente parecia ser a palavra de ordem na Citroën em meados do século passado. O DS, apresentado em 1955, que o diga. A carroceria baixa, com linhas fluidas e vidros rentes às colunas, exibia preocupações aerodinâmicas. O cx é de 0,34, equivalente ao de muitos carros atuais. É exatamente por isso que o modelo tem uma dianteira alongada, sua característica estética mais marcante.
Mas não foi só na aerodinâmica que o DS inovou. O modelo foi pioneiro no uso de freio a disco no eixo dianteiro (naquele período, os automóveis ainda usavam tambores nas quatro rodas) e demonstrava atenção à segurança também no interior, com painel e revestimentos das portas acolchoados. Em uma época em que ninguém usava cinto, essa media ajudava a prevenir ferimentos em caso de acidente.
Todavia, honrando a tradição da Citroën, era no sistema de suspensão que o DS ousava mais. Adotava um sistema independente nas quatro rodas, dotado de um mecanismo hidropneumático que mantinha a carroceria sempre nivelada ao solo, mesmo com carga máxima. Para completar, o vão livre era variável em três posições: o motorista elevava ou abaixava o veículo manuseando uma alavanca.
O motor era sempre de quatro cilindros: tratava-se de uma evolução da unidade que equipava o Traction Avant. Embora não fosse um foguete, o modelo se destacava pela estabilidade e pela capacidade de frenagem. Até hoje, a Citroën se vangloria da fama de desenvolver carros com boa estabilidade, conquistada ao longo desses 100 anos. Bem-aceito, o DS foi fabricado por duas décadas e só saiu de linha em 1975.
Uma curiosidade é que esse modelo foi usado como carro presidencial na França. Foi a bordo de um DS que o general De Gaulle sofreu um atentado em 22 de agosto de 1962. O veículo, que não era blindado, foi atingido por 14 tiros, dos quais dois perfuraram os pneus. Porém, graças à suspensão hidropneumática, o motorista conseguiu manter o controle e fugir, mesmo um par de pneus furados. O governante e os demais ocupantes sobreviveram.
De todos os modelos da lista, este aqui é o mais esportivo. Isso porque seu motor V6 foi criado pela Maserati, marca que foi comprada pela Citroën em 1968. A aquisição da marca italiana, aliás, é um capítulo curioso na história de 100 anos da marca francesa. A empreitada durou pouco: apenas até 1975, mas gerou produtos interessantes para as duas empresas. Um deles foi justamente o SM: lançado em 1970, seu nome é a abreviatura de Sport Maserati.
A proposta esportiva era evidenciada também pela carroceria do tipo coupé, a única disponível para o SM. O modelo unia bom desempenho de seu motor e o design singular à ousadia que marcava os modelos da Citroën de então. Àquela altura, a marca já havia adotado freios a disco nas quatro rodas. O sistema de suspensão hidropneumático, similar ao do DS, foi mantido.
Mas o item mais tecnológico do Citroën SM era, provavelmente, o sistema direcional dos faróis. Os fachos de luz iluminavam mais à esquerda ou mais à direita à medida que o motorista esterçava a direção. O mecanismo era todo eletro-mecânico, sem componentes eletrônicos No interior, destaque para os instrumentos ovalados e para uma espécie de computador de bordo, que indicava lâmpadas queimadas e baixo nível de óleo.
Apesar de todas as inovações, o SM teve carreira curta. A produção foi encerrada já em 1975, devido às vendas abaixo das expectativas. Lançado logo antes do estouro da crise do petróleo, o modelo literalmente pagava a conta do motor V6, que deveria justamente ser um de seus maiores atrativos. Breve, mas marcante, ele tornou-se um dos produtos mais icônicos da Citroën.
Apesar da história de 100 anos e da participação em diferentes mercados, a Citroën só se instalou no Brasil em 2001. Antes disso, os consumidores locais conheciam a marca como importadora. E, mesmo assim, somente antes da década de 1960, quando foi instalada a indústria automobilística nacional, e a partir dos anos de 1990, após a reabertura do mercado.
No dia 1º de fevereiro daquele ano, a empresa inaugurava sua fábrica em Porto Real (RJ). Essa unidade industrial também fabrica, desde o início, veículos Peugeot, com a qual a marca do Duplo Chevron formou, em 1976, o Grupo PSA.
O primeiro veículo nacional da Citroën, lançado justamente em 2001, foi o Xsara Picasso. Em 2003, veio o primeiro C3. Atualmente, além do C3 de segunda geração, são produzidos em Porto Real (RJ) o recém-lançado C4 Cactus e o C3 Aircross.
Fotos Citroën | Divulgação
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Na minha adolescência eu tinha 2 irmãos vizinhos bem mais velhos que eu, eles compraram um Traction Avant, retiraram o sistema de silencioso do escapamento, passavam acelerando fundo, saia fogo contínuo na boca do tubo, parecia um foguete Kkkkk kkk!!