Desempenho e consumo não dependem apenas do motor

Está enganado quem acha que, ao comparar dois automóveis diferentes, terá melhor desempenho o que tiver maior potência

novo prisma 2020 7
Por Boris Feldman
Publicado em 13/05/2018 às 10h00
Atualizado em 26/02/2020 às 17h21

Ainda estudante de engenharia, pilotava nas pistas meu “bravo” DKW. Não tinha grana, mas o patrocínio de uma autorizada da marca. Passava noites na oficina, além de incursões na retífica que preparava o motor.

Participe do nosso Canal no WhatsApp

Seu dono era um italiano típico, bravo, xingava, gesticulava, mas apaixonado pelo que fazia, além de entender uma barbaridade de mecânica. Um dia ele me desafiou: “Quer deixar seu carro mais rápido sem mudar nada do motor?” Pensei em diversas sugestões, exceto a dele: lubrificar rolamentos das rodas com Molikote, uma graxa superespecial, para reduzir atritos.

VEJA TAMBÉM

Dica óbvia, mas pouco lembrada e de muito significado para mim: me fez perceber que motor é fundamental no desempenho, mas não é tudo. Outros fatores são quase tão importantes quanto, entre eles aerodinâmica e peso.

Aerodinâmica e desempenho

Desempenho não depende apenas da potência
Foto Chevrolet | Divulgação

Quanto mais fluidas as linhas da carroceria, mais fácil o carro “corta” a barreira de ar que se forma à sua frente e exige menos potência e combustível. Para os não iniciados no assunto, basta colocar a mão para fora da janela de um carro em elevada velocidade. Na vertical, ela gera uma enorme resistência. Na horizontal, o esforço para mantê-la é quase nenhum.

Por isso a importância do túnel de vento no desenvolvimento de um automóvel: é onde se define a fluidez de suas linhas, definida pelo coeficiente aerodinâmico. Importante lembrar que a resistência da massa de ar à frente do carro aumenta exponencialmente com a velocidade.

Relação peso-potência

Outro fator que influi decisivamente é o peso. Além de reduzir consumo e emissões, o carro mais leve freia melhor e tem mais estabilidade.

Candidatos à compra de um carro novo se enganam com frequência ao procurar um modelo que tenha desempenho razoável, porém de consumo contido. Lançam mão das fichas técnicas para comparar potências e torques.

E levam gato por lebre se não considerarem outros fatores. A relação peso-potência é um deles: um carro de 100 cv, mas que pesa 1.000 kg, terá melhor desempenho que outro de 120 cv com peso de 1.500 kg.

Outra tendência enganosa é optar pelo motor de menor cilindrada, supondo consumo inferior. O freguês pode se surpreender ao fazer as contas no fim do mês e constatar que um compacto 1.0 pode  rodar menos quilômetros por litro que um 1.4, dependendo das condições topográficas, peso carregado, velocidade média, etc.

Tecnologia também influencia

A tecnologia também influencia: entre dois motores de 1.000 cm³, se um deles tem quatro cilindros, injeção no coletor (indireta), aspirado e com baixa taxa de compressão, terá certamente consumo superior ao de um tricilíndrico, injeção direta e turbinado.

O que é melhor: 1.0 turbo ou 1.6 aspirado? Boris Feldman comenta!

Por enquanto, só foram destacados fatores inerentes ao automóvel e que  independem das condições a que será submetido ao rodar. Porque aí entram dezenas de outros, como o chumbo no pé do motorista, peso transportado, histórico de manutenção do motor e de outros sistemas, etc.

E outros que dependem das condições ambientais como altitude e topografia. Além da qualidade do combustível, calibragem dos pneus, etc.

É por essas e outras a extrema dificuldade em se determinar o consumo de combustível de um automóvel. O Inmetro implantou recentemente o sistema de etiquetagem veicular que compara o consumo de todos os carros (divididos em categorias) comercializados no Brasil através de testes simulados em laboratórios.

Pode até não refletir exatamente o consumo no dia a dia por não levar em conta com exatidão diversos fatores além do motor, como o peso carregado ou sua aerodinâmica. Mas os valores da etiqueta (afixadas nos carros expostos nas concessionárias) permitem – pelo menos – comparar referencialmente o consumo de diversos modelos e contribuem, portanto, na decisão de compra.

Newsletter
Receba semanalmente notícias, dicas e conteúdos exclusivos que foram destaque no AutoPapo.

👍  Curtiu? Apoie nosso trabalho seguindo nossas redes sociais e tenha acesso a conteúdos exclusivos. Não esqueça de comentar e compartilhar.

TikTok TikTok YouTube YouTube Facebook Facebook X X Instagram Instagram

Ah, e se você é fã dos áudios do Boris, acompanhe o AutoPapo no YouTube Podcasts:

Podcast - Ouviu na Rádio Podcast - Ouviu na Rádio AutoPapo Podcast AutoPapo Podcast
SOBRE
1 Comentário
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Comentários com palavrões e ofensas não serão publicados. Se identificar algo que viole os termos de uso, denuncie.
Avatar
Diógenes Melo 28 de julho de 2018

Caro Boris. Aproveitando o tema desse artigo, “Consumo e desempenho não dependem apenas do motor”. Gostaria de saber sua opinião sobre a regulagem eletrônica do câmbio do Jeep Renegade. Há três meses adquiri um, como cliente PCD e na minha opinião acho que se ela tivesse uma melhor regulagem, melhoraria o consumo. Há mais de 20 anos que dirijo carro com câmbio automático, por exigência da pericia médica do Detran. Qual a sua opinião? Abraço, Diógenes Melo.

Avatar
Deixe um comentário