O Fordinho que descia escadas e o DKW que fugiu das cordas
Esses “causos” foram contados por um dos maiores colecionadores de automóveis do Brasil: Roberto Lee, que morreu assassinado por sua amante em 1975
Esses “causos” foram contados por um dos maiores colecionadores de automóveis do Brasil: Roberto Lee, que morreu assassinado por sua amante em 1975
Esses “causos”, tanto do Fordinho que descia escadas quanto o do DKW que fugiu das cordas para uma tentativa de suicídio em uma árvore, foram contados por um dos maiores colecionadores de automóveis do Brasil, que morreu assassinado por sua amante em 1975. Roberto Lee, esse era o nome do cara, é tido pelo pessoal do antigomobilismo, como o primeiro e um dos colecionadores que possuía um dos mais raros acervos do qual se tinha conhecimento no Brasil. Aos 41 anos, quando perdeu a vida, estava no auge do seu principal trabalho de garimpar carros raros por todo o território brasileiro e recuperá-los à perfeição de quando foram construídos. Mas, a infelicidade da discórdia com uma mulher com a qual se relacionava culminou com o final da construção do que seria hoje, certamente, o maior museu de mecânica automotiva da América Latina. Uma pena!
Mas, no início dos anos 70, tive a felicidade de conhecê-lo e ouvir dele bons causos relacionados a automóveis. O primeiro deles ocorreu lá pelo início dos anos 50. Roberto Lee, nessa época, não era habilitado e, pelo menos teoricamente, não poderia dirigir. Como todo bom apaixonados por carro, claro que ele dirigia. Na época, contou ele, tinha um pequeno Ford dos anos 30, que o público carinhosamente chamava de “Baratinha”, por suas duas portas um único assento, banco traseiro em uma tampa que parecia um porta-malas em um carro baixinho, quase sempre sem capota. Para completar, o Fordinho era pintado de xadrez, como as bandeiras quadriculadas utilizada nas largadas e chegadas das corridas.
Roberto Lee desfilava com o seu carro no centro velho de São Paulo. Vindo da praça Patriarca, recebeu uma ordem de parada de uma viatura de polícia. Mas, lembre-se, ele ainda muito jovem não possuía habilitação. Por esse motivo, desobedeceu a ordem de parada do guarda e simplesmente fugiu. A viatura partiu em perseguição e quando passava sobre o Viaduto do Chá, Lee percebeu que outra viatura já cercava a via no outro extremo do Viaduto. Nesse caso, ele não teria escapatória. Sabia que se fosse pego, iriam apreender seu Fordinho e teria sérios problemas com seu rígido pai. Diante de tanta pressão, o então jovem Roberto Lee, não teve dúvidas: Resolveu desviar para o único caminho que restava, as escadarias largas que partiam do Viaduto do Chá e desciam para o Vale do Anhangabaú passando pela Galeria Prestes Maia.
A ousadia do jovem, deixou os policiais de cabelo em pé. Quando julgavam o jovem praticamente capturado, sem chances de fuga, eles nunca imaginaram que ele e seu carro quadriculado desceriam as escadarias da Galeria Prestes Maia, para fugir pelo Anhangabaú. Já imaginaram o movimento de pessoas subindo e descendo aquelas escadarias sendo surpreendidas por um Fordinho todo quadriculado, tocando insistentemente a buzina para alertar os pedestres e pulando feito um cabrito? O susto teve ter sido grande! Mas, segundo Roberto Lee, sua descida foi tranquila e sem sobressaltos para as pessoas, em que pese a incredulidade dos fatos e pela inusitada ocorrência. A fuga foi um sucesso, como aquelas que assistimos nos filmes americanos. Hoje uma história engraçada, digna de boas risadas.
O outro “causo” que trago na memória relatado pelo Roberto Lee, ocorreu no início dos anos 70, alguns anos antes de sua morte. Ele já tinha a sua coleção bem crescidinha e estava na fase de complementá-la com produtos de nossa indústria automobilística. Um belo dia, um de seus olheiros achou um DKW praticamente novo, mas que estava abandonado em uma casa no bairro de Perdizes em São Paulo, há quase uma década. Era um carro do jeito que ele gostava. Foi com o seu mecânico, fez uma proposta e comprou o carro, mas fez questão de levá-lo na hora. Preparado para esse desfecho, já tinha uma corda no porta-malas de seu carro para levar para a oficina sua nova aquisição. Prendeu a corda ao DKW e a traseira do carro que estava. Colocou o mecânico no carro que não funcionava a anos e saiu puxando a nova aquisição para a oficina.
Pra quem não conhece, os bairros de Perdizes e Pacaembu, que fica ao lado, são repletos de aclives e declives. Enquanto estava na subida, a corda estava esticada e o DKW era puxado. Mas, surgiu no caminho uma boa descida, e ninguém pensou nessa hipótese. Roberto contou aos risos, que repentinamente olhou ao lado e viu o DKW ultrapassando o seu carro e seu mecânico de olho esbugalhado de pânico tentando controlar a indomável fera. Nessa manobra inesperada, a corda que unia os dois se rompeu e o tal DKW partiu descida abaixo, livre, leve e solto. O que ninguém pensou, é que o carro parado a uma década, além de não funcionar o motor, também não tinha freios. Quando pegaram a descida, o DKW sem freios desembestou moro abaixo, rompendo a corda e se mandando.
O mecânico que dirigia, quando viu a situação completamente fora de controle, não teve dúvidas: usou uma boa e forte árvore para segurar o impetuoso DKW fujão. Claro que a batida não foi nada agradável, mas parou o revoltado e fugitivo carro. Os danos foram de media monta e como o carro ia ser restaurado, paciência! Foi uma conversa de boas risadas e lembranças de minha juventude com o experiente colecionador, proprietário de Fordinho, DKW e tantos outros.
A lamentar, este fato de que o seu enorme e valiosíssimo acervo, ter sido desmontado e vendido em suas peças raríssimas para o exterior, outras para colecionadores nacionais e uma boa parte ter sido destruída e furtada dentro do museu nos anos que se seguiram a sua morte. Como sempre a grana falou mais alto que a história e ficamos sem essa parte da memória de nossa história automobilística.
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