Motor a combustão: por que ele não presta?
O motor que faz rodar nossos automóveis já deveria ter sido banido do planeta há tempos; ele é excepcional como máquina de calefação
O motor que faz rodar nossos automóveis já deveria ter sido banido do planeta há tempos; ele é excepcional como máquina de calefação
Leitor da coluna pergunta se acionar o ar quente do carro provoca um aumento no consumo de combustível. O raciocínio dele deve ter sido de que, se o sistema de ar-condicionado para esfriar a cabine aumenta o consumo, o mesmo deveria ocorrer ao se utilizar o dispositivo para esquentá-la.
Mas não é assim. O ar-condicionado funciona como uma geladeira e obriga o motor do carro a acionar um compressor que exige parte de sua potência. Por isso o consumo aumenta. E o ar quente?
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Existe à vontade – e de graça – já que o motor a combustão trabalha em elevadas temperaturas, pois seu princípio de funcionamento é exatamente a queima do combustível.
A rigor, o problema do automóvel é o contrário: tem-se que montar todo um esquema para retirar o calor gerado pelo funcionamento do motor. É o sistema de refrigeração com radiador, bomba e galerias de água, mangueiras e ventilador.
E, quando não funciona corretamente ou diante de uma irregularidade de funcionamento do motor, a água chega a ferver por excesso de calor.
Quem conviveu com o Fusca deve se lembrar de que oferecia, apesar de sua simplicidade, um sistema de calefação muito conveniente nos dias mais frios.
Nada mais nada menos que uma válvula que se abria no túnel, ao lado da alavanca de mudanças, que permitia a passagem de ar quente para o interior do carro. Tudo muito simples, pois seu motor era refrigerado a ar – que estava sempre aquecido. Bastava desviá-lo…
Esta explicação sobre o ar quente disponível nos automóveis vai muito além e é extremamente significativa: demonstra também que o motor a combustão que movimenta todos os veículos (com as raríssimas exceções dos elétricos) é das máquinas mais ineficientes que se conhecem no mundo.
A rigor, menos da metade da energia contida num combustível líquido (gasolina, etanol ou diesel) é aproveitada para movimentar o carro. O resto tem que vencer o atrito entre centenas de peças móveis, movimentar periféricos (alternador, bomba de água, ventilador) e gerar calor que é trocado com o ambiente por dissipação no radiador.
É até covardia comparar a eficiência de um motor a combustão com um elétrico, pois este aproveita cerca de 90% da energia fornecida. Vale lembrar que ele tem apenas uma peça móvel, o eixo acoplado a um rotor e dois rolamentos. A grosso modo, tem o dobro da eficiência de um motor a diesel (50%) ou a gasolina (40%).
Também pudera: o princípio de funcionamento dos motores a combustão não foi significativamente alterado desde sua criação, há mais de 130 anos. Basta lembrar do surrealismo de sua operação: os pistões, por exemplo, sobem e descem alternadamente dentro dos cilindros, atingindo velocidades acima de 100 km/h em seu curso, estancam e param completamente quando chegam em cima ou em baixo e começam tudo de novo.
Já se tentou aumentar sua eficiência com o pistão rotativo (Wankel), mas há dificuldades operacionais (mecânicas) difíceis de se resolver.
Várias outras tentativas de tornar o motor a combustão mais eficiente foram desenvolvidas nos últimos cem anos, com refinamentos mecânicos ou eletrônicos. Turbina, injeção direta, comandos variáveis, ciclo Miller ou Atkinson, compressão variável e muitos outros.
Mas o grande salto tecnológico ainda não foi conquistado: o motor adiabático, que não troca calor com o ambiente.
Não chega, portanto, a ser uma extravagância dizer que o motor é uma máquina excepcional como aparelho de calefação e que, como subproduto, fornece também energia para movimentar o automóvel.
Há quem diga que nossas gerações serão abominadas no futuro por termos queimado pelo escapamento e dissipado pelo radiador milhões de bilhões de litros de petróleo. Uma utilização mais que fuleira, apesar das possibilidades de sua utilização de forma bem mais nobre, como na petroquímica.
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Eu tenho ressalvas a ideia do interesse exclusivo ou majoritário dos extratores de petróleo. O argumento me parece falho e nos levará a crer, imagino, um controle de toda uma força econômica determinada a poucos fornecedores, a mercê de seus caprichos, entre outros. Talvez o cenário foi desenvolvido para se crer nisso – o que nos explicaria toda a dissertação já propagada sobre o tema. Mas, o fato, do qual não há argumento contra, ou conjecturas, ou interpretações pessoais, repito, o fato é: há uma dependência acachapante dos meios produtivos: não de onde se extraí, mas quem extraí, armazena, processa, transforma, disponibiliza, precifica e sem ditames ou auditoria externa, senão apenas os próprios lobbies levando às legislações pífias ou inertes. Note: se eu produzir um veículo movido a minhas próprias pedaladas existiram uma infinidade de regulamentos e lei que me impediram. A bicicleta já está limitadíssima, sendo tão simples na concepção…
* DESCULPE O EXTRAÍ, pois a o corretor acrescentou o acento por automatização (desabilitei agora). Escrevi EXTRAI.
Não, nossas gerações não deverão jamais serem abominadas pelo motor a combustão. Ele foi e é parte de um ciclo de desenvolvimento tecnológico. Talvez o invento com ciclo de aperfeiçoamento mais longo e lento, porém constante. E somente não foi ainda aposentado, creio eu, por interesses político-econômicos, pois há muito que o hidrogênio se apresentou como a forma de energia do futuro. Porém, como ficariam os acionistas e sheiks da indústria do petróleo? Porque não se iludam, o petróleo na matéria acima celebrado como mais bem aproveitado na indústria petroquímica, não terá 10% de seu valor de venda quando não for mais o responsável pela energia cinética que move quase tudo no planeta. Também não se cria da noite para o dia milhões de postos de abastecimento de eletricidade, o investimento para tanto deverá ser pesado. Enfim, viva, enquanto o utilizamos, o motor a combustão.
Verdade que um motor a combustão veicular é muito ineficiente, porém não explicar o porque e comparar um motor a combustão para movimentar um veículo, com um motor elétrico estacionário que trabalha a rotação constante, sem maiores detalhes, sem falar que mesmo assim esta é a melhor opção, isso não é correto, isso foi no mínimo tendencioso.
Verdade que um motor a combustão veicular é muito ineficiente, porém não explicar o porque e comparar um motor a combustão para movimentar um veículo, com um motor elétrico estacionário que trabalha a rotação constante, sem maiores detalhes, sem falar que mesmo assim esta é a melhor opção, isso não é correto, isso foi no mínimo tendencioso.
Tenho carro a gasolina, com bastante potência e o tenho mais do que apenas como meio de transporte. Traz-me sensação de liberdade e satisfação. Gosto de dirigir e curto carros com motores a explosão interna, apesar de reconhecer que eles não existirão para sempre. Então, enquanto eles forem viáveis para mim, não trocarei por elétricos, autônomos ou com outras características insossas.. Fico indignado com a indústria de multas, que me obrigam a dirigir dividindo a atenção entre a paisagem em busca de radares e o velocímetro para ver se estou cometendo infração, principalmente durante viagens. Consequentemente, acabo por me desconcentrar quanto a dirigir propriamente. Os radares são, muitas vezes, armadilhas instaladas em locais estratégicos para a arrecadação de multas. Pena que o autor dessa coluna sobre automóveis não goste dos mesmos e, além disso, goste das multas. Deveria escrever sobre videogames de carros.
É como a lâmpada incandescente, que também pode ser chamada de equipamento de calefação que fornece um pouco de luminosidade, mas que finalmente foi substituída por LED, tecnologia super eficiente. Mas o motor a combustão parece que está longe de ter o seu substituto, pelo menos para a imensa maioria dos usuários.