Nosso combustível: a problemática gasolina brasileira
A ANP faz de conta se preocupar com o consumidor, mas, no momento, quer evitar a distribuição direta do etanol
A ANP faz de conta se preocupar com o consumidor, mas, no momento, quer evitar a distribuição direta do etanol
Nossa gasolina sempre foi uma encrenca. Houve época em que os carros importados da Europa eram “tropicalizados”: tinham sua taxa de compressão reduzida para se adequar à pobre gasolina brasileira, de pouca octanagem e muito enxofre. O motor perdia desempenho e o consumo aumentava. Nem mesmo nossa gasolina especial com mais octanagem e chamada de“azul” dava conta do recado.
Motores e combustíveis evoluíram. A gasolina brasileira poderia hoje estar entre as melhores do mundo pois eliminou o chumbo e reduziu o teor de enxofre. O chumbo é tão tóxico que contamina o organismo de forma permanente. A turma “da graxa” no passado ainda é vítima dele: exames detectaram resíduos de chumbo até hoje no meu corpo.
No Brasil, a solução para eliminar o chumbo foi a adição de etanol. Solução técnica que acabou descambando para a política: usineiros pressionaram e o governo foi permitindo o acréscimo de seu teor que já atingiu impensáveis 27%. É o motorista lesado com a conivência do governo, pois paga por gasolina, mas recebe mais de um quarto de etanol, de valor energético cerca de 40% inferior.
Não bastasse, o dono do carro é vítima, ao abastecer, de toda a sorte de picaretagens. No posto desonesto, está sujeito a pagar pela gasolina “super batizada” com teor de etanol superior aos 27% permitidos. O carro flex não reclama pois tem motor projetado para receber qualquer mistura dos dois combustíveis. Mas o excesso de consumo pesa no bolso. Se o motor é a gasolina, pior ainda, pois terá funcionamento irregular e ainda poderá ser danificado pois o etanol “extra” não é anidro, mas hidratado, que contem água.
Outra manobra desonesta é da bomba “programável”. Um chip controlado remotamente do escritório do posto programa uma entrega de combustível inferior à registrada no visor. Se o motorista ou um fiscal pede para conferir, o controle é acionado e a bomba volta imediatamente a marcar o volume correto.
Em muitos países, toda a gasolina é aditivada, para evitar depósitos carboníferos que interferem na combustão, aumentando consumo e emissão de gases. Por aqui, a ANP,encarregada de normatizar a aditivação da gasolina brasileira, foi incapaz de enfrentar as poderosas empresas do setor e entregou os pontos.
E mais: gasolina aditivada é cada uma de um jeito, pois a distribuidora apenas notifica a ANP sua formulação e estamos conversados. Se a fiscalização da gasolina comum já e deficiente, da aditivação sequer existe. O motorista pode estar pagando pela aditivada e recebendo a comum.
A ANP faz de conta proteger o consumidor mas, nesta semana por exemplo, manifestou preocupação com a entrega direta do etanol pelas usinas aos postos, que reduziria seu preço na bomba. Mas prejudicaria as grandes distribuidoras.
Aliás, o etanol também não está livre de maracutaia. O vendido na bomba pode, oficialmente,conter um pequeno percentual de água (7%) e por isso chamado de hidratado. Mas, o posto desonesto não perde esta chance de enganar o freguês e “bota mais água no feijão”. Alguns,no litoral, chegam ao cúmulo de misturar água do mar: vi uma vez, no laboratório da Bosch, o sistema de injeção de um carro flex completamente danificado. O etanol, analisado, revelou presença de elementos característicos do mar, como sal e iodo.
Outra picaretagem é do etanol aditivado nos postos Shell. A empresa inventou essa “moda”simplesmente para um faturamento adicional pois não há necessidade (como na gasolina) de se aditivar o etanol. Pelo simples motivo de seu teor de carbono ser apenas um terço da gasolina, impossibilitando, portanto, a formação de depósitos carboníferos na câmara de combustão.
A gasolina brasileira é problemática há décadas. Nosso combustível inda hoje exige projetos específicos para nossos automóveis. Encarece o custo do km rodado. É impunemente adulterado. Prejudica o desempenho de carros importados. E ainda dificulta a circulação de nossos modelos em países vizinhos e vice-versa.
Foto: Marcello Casal Jr | Agência Brasil
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ISSO TUDO ACONTECE PORQUE A INGERENCIA DO GOVERNO É MUITO GRANDE. TEM QUE ENDURECER O CODIGO PENAL E AUMENTAR AS PENAS SEM OS BENEFICIOS EXISTENTE DE REDUÇÃO DAS PENAS.
E a ANP ainda lançou consulta pública na semana passada pra aprovar regulamento que passa a responsabilidade do monitoramento da qualidade dos combustíveis, o chamado PMQC, da própria agência para os postos revendedores e distribuidores. Agora imagine: como não ter conflitos de interesse entre quem atesta a qualidade e quem paga por esse atestado se for como a ANP quer implementar? A qualidade que é já é motivo de preocupação vai descambar geral….Só no Brasil mesmo…..
Ter carro no Brasil é contar com a sorte: além dos mecânicos picaretas ainda tem a questão desse combustivel horroroso sem falar das estradas mal conservadas, das peças falsificadas, da mão de obra desqualificada…