Carro maluco sem motor na subida, sem freio na descida
"Esse causo é um dos mais doidos que ouvi ao longo de minha vida: ele ocorreu nos anos 60 com o mecânico Joãozinho e o seu Skoda"
"Esse causo é um dos mais doidos que ouvi ao longo de minha vida: ele ocorreu nos anos 60 com o mecânico Joãozinho e o seu Skoda"
Esse causo é um dos mais doidos que ouvi ao longo de minha vida. O fato ocorreu na segunda metade dos anos 60 e os principais protagonistas foram o mecânico João, carinhosamente chamado de Joãozinho pelos parentes e amigos devido a sua baixa estatura, apesar do corpo musculoso, e seu carro e companheiro do dia a dia, um Skoda 1957.
Já é o segundo causo que conto nesta mina coluna com carros Skoda, mas por simples coincidência, pois um não tem nada a ver com o outro. Esse, do mecânico Joãozinho, eu sequer me lembro de sua cor. Mas é que o carro Skoda, queira ou não, está sempre envolvido em casos engraçados no decorrer de minha vida. Interessante!
Mas vamos ao causo que envolveu nosso amigo mecânico e seu carrinho tcheco. Mas antes, vamos falar do bom mecânico Joãozinho, que acabou partindo dessa para melhor em um acidente testando o carro de um cliente. Vítima, certamente, da inexistência do cinto de segurança no início dos anos 70. Joãozinho era um bom mecânico e fazia a manutenção do Fusca 61 que meu pai possuía na época.
Ele era casado com uma prima minha, a Julieta, com quem tinha um casal de filhos. Quase todo fim de semana, quando era sua folga na Mercedes-Benz, onde trabalhava como mecânico na manutenção da frota, eu estava lá em sua casa, quando o meu pai levava o Fusquinha para dar uma regulada no carburador ou limpar o platinado e acertar o ponto de ignição.
Joãozinho era um mecânico destemido e fazia algo que me deixa intrigado até hoje: com o motor funcionando em marcha lenta, Joãozinho soltava um dos cabos de vela recebendo aquela alta voltagem da bobina, algo em torno de 2.000 ou 3.000 volts que faziam seus músculos pulsarem junto com o funcionamento do motor e com o dedo indicador perto do para choque, a faísca do sistema de ignição saia dos seus dedos para o para choque cromado do Fusca. Assustador! E essa pratica era feito como uma espécie de brincadeira, na qual ele se dizia poderoso, capaz de lançar faíscas pelos dedos. Enfim, um camarada divertido e brincalhão, além de entender muito do ofício de mecânico.
Pois bem, Joãozinho trafegava com o seu Skoda em uma avenida de pista única e mão dupla que desembocava no início da Via Anchieta, rodovia que liga a capital ao litoral paulista. Na época, essa avenida e conhecida em São Paulo como “três tombos”, porque seu perfil lembrava as corcovas de um camelo – hipotético já que possuía três corcovas.
E o pequeno Skoda, era velhinho para a época e, ao mesmo tempo, possuía um motor fraquinho. Por isso, para subir a ladeira era preciso embalar na descida. Quem já dirigiu carro fraquinho nessa situação, sabe do que eu estou falando.
Mas, aí, surgiu a mancada do carrinho tcheco: por uma falha de projeto, o que prendia o semieixo ao diferencial era um anel de pressão de aço, que, em um carro velho, já não tinha tanta pressão assim. Como o carrinho foi acelerado fundo na descida para embalar na subida, quando a pressão e a força do motor se fizeram presentes quase no topo da subida, nosso “eletrificado” mecânico ouviu o que não queria: um estalo na parte traseira que permitiu que o semieixo juntamente com a roda e a panela de freio saíssem, mas de maneira que a roda não pudesse cair, pois estava apoiada na parte interna do para-lama. A confusão estava formada e o furdúncio só começava.
Quando nosso intrépido mecânico ouviu o barulho e percebeu que algo de errado estava acontecendo, pois o carro perdeu completamente a tração e não conseguia chegar ao topo da ladeira, instintivamente ele pisou no freio. Como a roda e a panela de freio haviam se desencaixados de suas posições juntamente com o semieixo, o ato de pisar no freio, não deu em nada: sem a panela, os patins de freio simplesmente abriram, o pedal deu na tábua e o sistema não funcionou. O mecânico João, estava sem motor, porque a transmissão tinha se desligado das rodas, e sem freios porque, os patins traseiros não tinham panela para apoiar. Ele estava num mato sem cachorro!
O Skoda andou o que o embalo permitia sem a tração do motor e aí, sem freios, começou a descer de marcha ré. Por sorte, nenhum carro vinha atrás e nosso mecânico passou a conduzir o Skoda andando para trás em alta velocidade. Desceu, desceu e começou a subir, sempre de marcha ré e no embalo. Subiu até um trecho parou e voltou a descer, agora de frente. Desceu, voltou a mesma ladeira e começou a subir, ainda no embalo sem motor e sem freios. Isso foi acontecendo sem que o mecânico que, agora, poderia ser chamado até de piloto, pudesse fazer nada. Ficou por conta da sorte.
Depois de repetir essa operação algumas vezes, sem causar ou se envolver em nenhum acidente, finalmente nosso mecânico e seu carro maluco, pararam. Ufa! Que susto! Os diagnósticos de tudo que aconteceu, foram feitos posteriormente depois que nosso amigo mecânico desmontou o que havia quebrado no carrinho e concluiu porque ele passou por aquele susto. Culpados? Não dá para acusar ninguém. O projeto do carro, sua idade e a situação crítica de uso no caso da ladeira podem ser apontados como um dos motivos
A avenida onde ocorreu o fato, depois de muitos acidentes, foi devidamente sinalizada e limites de velocidade acabaram com aquele jeitinho de embalar na descida para ganhar tranquilidade na subida. Hoje, essa avenida é bem sinalizada e velocidade controlada, tanto nas descidas quanto nas subidas. Queira ou não, os abusos e excessos na velocidade, são sempre o estopim de algum acidente. Por isso, vamos respeitar as sinalizações, pois, dessa forma, o risco de nos envolvermos em um acidente, diminui bastante.
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