VW Gol: por que o carro mais importante da história do Brasil vai morrer
Modelo ressignificou o mercado de carros populares no Brasil ao longo de 42 anos, mas sua despedida prova que o tempo é implacável para todos
Modelo ressignificou o mercado de carros populares no Brasil ao longo de 42 anos, mas sua despedida prova que o tempo é implacável para todos
Boa parte dos leitores destas mal traçadas já haviam nascido a tempo de ver o Volkswagen Gol nascer. Mas quem diria que estaríamos vivos neste estranho 2022 para vê-lo morrer. Pois é o que está prestes a ser oficializado com a chegada do Gol Last Edition nas próximas semanas.
A série especial marcará o encerramento de um ciclo de 42 anos do carro mais importante da história da indústria automobilística nacional, o modelo que redefiniu tudo que conhecemos como “carro popular” até os dias de hoje.
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Vejamos: o Gol é o produto mais vendido de nosso centenário mercado, e não é por pouca margem. Foram quase 7 milhões de unidades comercializadas desde seu lançamento, em 1980, contra 3,2 milhões do Fiat Uno e pouco menos de 3 milhões do VW Fusca, a quem o Gol veio para substituir.
Percebe? O Gol vendeu mais que o dobro de dois outros fortes ícones de nossas ruas. Além disso, seu estilo de carroceria, especialmente na segunda geração, a popular G2 ou “Bolinha”, segue moldando o estilo dos hatches compactos que caem no gosto do consumidor brasileiro até os dias de hoje.
Nascido do projeto BX, o Gol quase morreu prematuramente, por conta do crasso erro estratégico da fabricante de aplicar nele os cansados motores refrigerados a ar de Fusca e Kombi em seus primeiros anos de vida.
A VW foi feliz ao perceber e corrigir a rota a tempo. Quando aplicou nele os propulsores da cultuada família AP, aí foi só alegria. Foram anos e décadas a fio de liderança resoluta, intransigente, inabalável. Não havia Fiat Uno, Fiat Palio, Chevrolet Corsa, Chevrolet Celta ou Ford Fiesta capazes de o ameaçar.
O reinado acabou em 2014, quando ele passou o bastão provisoriamente ao Fiat Palio e, depois, de modo mais perene, ao Chevrolet Onix. Mas o legado ficou, e é por isso que o Gol se despedirá com pompa e loas, aos moldes da Kombi Last Edition em 2013.
Com uma diferença interessante entre eles: enquanto a morte da Kombi já era bola cantada, porque era um projeto dos anos 1940 que não conseguia mais acompanhar as leis de segurança veicular do país, o Gol até poderia sobreviver, se a VW quisesse.
É o que suscita a pergunta: por que, afinal, o carro mais importante na história do Brasil vai morrer? E a resposta é a mesma que serviu para explicar o fim do Palio, do Uno e, mais recentemente, do Renault Sandero: a deterioração do carro popular brasileiro e o fim do fetiche pelo carro zero fizeram seu nome se desgastar.
Acessível e relativamente “barato” nos anos 2000, o carro popular foi se tornando cada vez mais proibitivo na medida em que a renda do brasileiro se corroeu ao longo das décadas passada e atual, e novas leis de trânsito subiram o sarrafo (leia-se custo) dos projetos.
Quem tem R$ 80 mil para pagar em um Gol 1.0 MPi nos dias de hoje? Mesmo se a pessoa tiver, quem disse que vai querer pagar R$ 80 mil em um Gol 1.0 MPi? Provavelmente vai buscar uma opção mais sofisticada no mercado de usados, ou pegará mais R$ 40 mil para comprar coisa melhor no segmento de SUVs compactos. Compreensível.
Se o público-alvo do Gol não pode mais compra-lo, e se o público que tem bala na agulha para adquiri-lo o rejeita, o que resta? Vender Gol para frotistas e locadoras, claro. Só que, se essa solução segura a onda em curto prazo, promove uma desvalorização cada vez mais difícil de reverter da imagem do modelo no varejo.
Certa vez, uma fonte me disse que a Renault havia desistido do Sandero aqui porque “seu nome já não gerava mais valor” para a marca. A lógica foi a mesma para o Fiat Uno e, certamente, vale para o VW Gol.
Fica provado, agora, que o ciclo da vida também vale para os carros: nascer, se desenvolver, viver o auge, o ocaso e, enfim, a morte. Até para o Gol e seus quase 7 milhões de exemplares comercializados ao longo de 42 anos, três gerações e diversas atualizações estéticas e mecânicas.
“O tempo não espera por ninguém, tampouco esperará por mim”, já cantavam os Rolling Stones – banda que, aliás, batizou uma série especial do hatch em 1995. Pois ele também passou para o Gol. Resoluto. Intransigente. Inabalável.
Comentei no canal da Mobiauto sobre o “último Gol”:
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Tenho um G3 rallye ano 2005 AP manutenção barata um excelente veículo manutenção em dia dificilmente quebra, tem peças em qualquer lugar do Brasil,vai ficar com migo até o fim da minha vida como recordação .
O público do Gol (e similares) têm toda a razão em recusarem-se a pagar 80 paus ou mais por um hatch compacto (que deveria ser vendido por no máximo 60 mil, e já com um bom lucro).
Porém quem tem maior renda, aceita naturalmente pagar 150 paus ou mais por um falso “suv” ( que não é SUV, e não vale mais do que 90 mil). Foi aí que as montadoras conseguiram forjar o seu “filão de ouro”, que fez explodir os preços dos Zero-Kms e inflacionou até mesmo o mercado dos usados (para aonde tentaram fugir os consumidores mais conscientes).
Só mesmo aqui…Em nenhum outro país as montadoras estão lucrando tanto por veículo. Culpa de quem aceita ser iludido e espoliado só pra “estar na moda”.
O tempo passou para o gol G5. Só competia com kwid e Mobi, sendo mais antiquado que os concorrentes. Mas acho que a pá de cal era o preço, mais de 10 mil acima do aceitável, na minha opinião. A fábrica tira de cena devido a baixa margem de lucratividade, o resto é conversa de saudosista.
E conversa de você cuzão que não deve ter dinheiro na conta ou crédito nem para comprar uma bike.