[Avaliação] Fiat Cronos HGT tem boa dirigibilidade, mas não é esportivo
Esportividade é restrita aos adereços da carroceria, mas o grande problema do sedã está no preço alto demais em relação ao conteúdo oferecido de série
Esportividade é restrita aos adereços da carroceria, mas o grande problema do sedã está no preço alto demais em relação ao conteúdo oferecido de série
Entre os poucos carros aos quais a Fiat aplicou a sigla HGT, o Cronos é o menos esportivo. O Brava, primeiro modelo da marca a utilizá-la, era o mais “preparado”, com direito a motor de maior cilindrada (utilizava uma unidade 1.8 de 132 cv, enquanto as demais versões traziam um 1.6 de 106 cv). No hatch Argo, a mecânica passou a ser idêntica à da configuração Precision, mas ao menos o fabricante desenvolveu um acerto específico de suspensão, um pouco mais firme.
Já no sedã, nada foi feito para aprimorar a dirigibilidade: ele traz o mesmíssimo conjunto do restante da gama. De acordo com a Fiat, o Cronos HGT não recebeu modificações mecânicas porque, majoritariamente, os compradores de sedãs não valorizam esse tipo de intervenção. Por isso, a marca italiana não esconde que o apelo do modelo é puramente visual.
É verdade que, nesse aspecto, ele agrada em cheio, com uma decoração esportiva discreta e de bom gosto, que inclui aerofólio na tampa traseira, além de rodas e retrovisores pintados de preto. Por fim, não há cromado algum na carroceria: os frisos da grade e do para choque frontal foram suprimidos e até os emblemas foram escurecidos.
No interior, porém, é difícil notar qualquer esportividade, meso que apenas visual. No acabamento, o modelo exibe forrações do teto e das colunas pintadas em… Preto, é claro! E só.
No mais, o padrão do habitáculo da versão HGT é semelhante ao do Fiat Cronos Precision. Isso, contudo, traz algumas vantagens: significa que a coluna de direção é regulável também em distância, e não somente em altura. Esse recurso, aliado ao volante de boa pega e ao banco bem-dimensionado, proporciona uma posição de dirigir ergonômica e confortável. Essa, aliás é a tônica do modelo: apesar da aparência invocada, ele entrega mesmo é comodidade e praticidade.
Tanto que, apesar de ser um sedã compacto, com o mesmo entre-eixos de 2,52 m do Argo, o espaço interno é amplo. Atrás, mesmo com os bancos dianteiros recuados, há espaço satisfatório para as pernas dos passageiros. Tampouco falta área para as cabeças da turma. Um eventual quinto ocupante ressente-se da pouca largura do assento, mas conta com a proteção do cinto de três pontos e do encosto de cabeça.
Porém, grande mesmo é o porta-malas: com 525 litros de capacidade, chega a superar o de modelos maiores, e ainda é possível ampliá-lo em diferentes configurações, já que o banco traseiro é bipartido. O vão de abertura é grande, mas o espaço poderia ser ainda melhor aproveitado se as dobradiças da tampa fossem pantográficas.
O acabamento da versão HGT segue o bom padrão que a Fiat adotou nas linhas Cronos e Argo. Não há luxo a bordo, pois os materiais de revestimento são simples. Ainda assim, o interior do sedã transmite qualidade, pois os plásticos têm baixo brilho e não aparentam ser exageradamente sensíveis a riscos. Além disso, os componentes são bem-montados e exibem diferentes texturas. O ponto destoante fica por conta das forrações das portas traseiras, que não têm enxertos macios nem mesmo nos apoios de braço. Nas portas dianteiras, essas porções são estofadas.
A central multimídia também ajuda bastante quando o assunto é comodidade a bordo. O equipamento, que é compatível com plataformas Android Auto e Apple Car Play, tem uso bem fácil e intuitivo. A tela de toque entrega sensibilidade na medida certa, enquanto as duas entradas USB servem também para carregar celulares. Há ainda Bluetooth e sistema de reconhecimento de voz.
Ao volante, o Fiat Cronos HGT deixa ainda mais claro que tem proposta familiar, e não esportiva. A boa notícia é que guiá-lo não chega a ser uma experiência modorrenta. O ponto alto é o acerto de suspensão, que mesmo sem alterações, agrada bastante. Apesar da arquitetura simples, com sistemas McPherson na dianteira e de eixo de torção na traseira, ele concilia ótimo equilíbrio entre conforto e estabilidade. Isso significa que o conjunto é capaz de conter a rolagem da carroceria em curvas e ainda absorver bem as imperfeições do solo.
Os freios, também simples, com discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, mostram-se igualmente bem-dimensionados. Afinal, conseguem imobilizar o veículo em espaços adequados e sem sustos. A reclamar, só da direção elétrica, que poderia ser um pouco mais firme e direta em alta velocidade. É verdade, contudo, que a leveza do volante em manobras é um ponto positivo.
O Fiat Cronos HGT vem equipado unicamente com motor 1.8 e câmbio automático. O propulsor é o velho conhecido da família E.torQ, já atualizado com mecanismo de variação no tempo de abertura das válvulas e coletor de admissão variável. A potência é de 139 cv com etanol e de 135 cv com gasolina. Já o torque é de e 19,3 kgfm com o primeiro combustível e de 18,8 kgfm com o segundo. Apesar de datado, esse propulsor tem alguns trunfos, como sistema de partida a frio sem tanquinho e corrente de sincronização, que dispensa trocas periódicas.
Quando o assunto é desempenho, o Fiat Cronos HGT é bom, mas não ótimo. Sim, o motor dá boa desenvoltura ao modelo, e mesmo com habitáculo e porta-malas carregados, a performance ainda é satisfatória. Porém, os números de potência e torque sugerem um comportamento melhor que o obtido na prática. Isso ocorre, primeiramente, porque, apesar do porte compacto, o sedã não é leve: segundo o fabricante, ele pesa 1.271 quilos.
Ademais, o câmbio automático tem programação voltada a para a economia de combustível. Ele evita esticar as marchas, trocando-as em rotações mais baixas sempre que possível. Vale destacar, porém, que o motorista pode assumir o controle e comandar a transmissão sequencialmente. Essa operação, inclusive, é facilitada pela presença de borboletas no volante.
O problema maior é que, apesar dos esforços do câmbio automático, o Fiat Cronos HGT não é econômico. Muito pelo contrário: a reportagem aferiu médias de 5,9 km/l na cidade e de 9,1 km/l na estrada. Desse modo, o tanque de 48 litros torna-se pequeno e, com etanol, limita a autonomia a cerca de 437 km.
Os números informados pelo Programa de Etiquetagem Veicular do Inmetro não são muito melhores: também com o combustível vegetal, são 7,2 km/l no ciclo urbano e 9,6 km/l no rodoviário. Com gasolina, os dados informados são de 10,3 km/l e de 13,3 km/l, respectivamente.
O preço sugerido do Fiat Cronos HGT é de R$ 78.490. Por mais que ele seja o top de linha, trata-se de um valor muito elevado. A etiqueta de compra poderia ser mais justificável se, pelo menos, a lista de equipamentos de série fosse campeã. Porém, não é bem assim: com exceção dos adereços estéticos, o pacote é semelhante ao da versão Precision, que custa exatos R$ 3 mil a menos.
O modelo vem de fábrica com ar-condicionado digital, assistente de partida em rampa, direção elétrica, alarme, computador de bordo, vidros, travas e retrovisores elétricos, rodas de liga leve de 17 polegadas, sensores de ré e sistema de monitoramento de pressão dos pneus. Entre os itens de segurança, há ganchos Isofix para fixação de cadeirinhas e controles eletrônico de estabilidade e tração, além dos obrigatórios airbags frontais e freios ABS.
Todo o conteúdo adicional é oferecido à parte. A Fiat cobra R$ 1.500 pelo revestimento dos bancos em “couro ecológico” (que, na verdade, apenas imita o material natural). Sensores de chuva e de luz, retrovisores externos com rebatimento elétrico e chave presencial com botão de partida são vendidos juntos, em um kit batizado pelo fabricante de “Tech”, por R$ 2.500. Até a pintura preta para o teto é opcional: custa R$ 500.
Até aí, ainda vai. Duro é ter que pagar valores extras de R$ 2.500 pelos airbags laterais e de R$ 700 por uma simples câmera de ré: pelo menos esses últimos itens deveriam estar incluídos no preço inicial. No fim das contas, com tudo a que se tem direito, inclusive pintura perolizada, o preço salta para R$ 88.040. É um valor exorbitante para um sedã compacto.
Que o Fiat Cronos HGT é um bom carro, não há dúvida. Porém, para justificar seu custo de aquisição, ele deveria trazer de série ao menos parte do conteúdo oferecido como opcional. Além, preferencialmente, de um motor turbo de menor cilindrada: nem tanto para otimizar o desempenho, mas sim para melhorar o elevado o consumo de combustível.
O novo Chevrolet Onix Plus e o Hyundai HB20S de segunda geração, que são concorrentes diretos, inclusive, já entregam esses recursos. Nenhum dos dois têm versão com visual esportivo, mas, em compensação, transmitem mais jovialidade, principalmente na parte mecânica.
A Fiat oferece três anos de garantia sem limite de quilometragem para toda a linha Cronos, incluindo a versão HGT. As revisões são realizadas a cada 10 mil quilômetros ou 1 ano, com preços tabelados até os 50 mil quilômetros. A primeira custa R$ 304, valor que sobe para R$ 556 na segunda e cai para R$ 480 na terceira. A quarta parada para manutenção é a mais cara: R$ 748. A quinta e última tem valor fixado em R$ 496.
Ficha técnica | Fiat Cronos HGT |
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Motor | Dianteiro, transversal, flex, 1.747 cm³, com quatro cilindros, de 80,5 mm de diâmetro e 85,8 mm de curso, e 16 válvulas, com comando único |
Potência | 135 cv (gasolina) e 139 cv (etanol) a 5.750 rpm |
Torque | 18,8 kgfm (gasolina) e 19,3 kgfm (etanol) a 3.750 rpm |
Transmissão | automática de seis marchas, tração dianteira |
Suspensão | McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
Rodas e pneus | Rodas de liga leve 6,5” x 17”; pneus 205/45 R17” |
Freios | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS |
Direção | assistida eletricamente, diâmetro de giro de 10,5 m |
Dimensões | 4,364 m de comprimento, 1,726 m de largura, 2,521 m de distância entre-eixos, 1,516 m de altura |
Peso | 1.271 kg |
Vão livre do solo | 164 mm |
Carga útil | 400 kg |
Tanque de combustível | 48 litros |
Porta-malas | 525 litros |
Fotos Alexandre Carneiro | AutoPapo
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