O macarrão de Giugiaro e o Bentley do Raul Pires
O design italiano conquistou o mundo, mas o Brasil é celeiro de designers que assinam importantes projetos europeus
O design italiano conquistou o mundo, mas o Brasil é celeiro de designers que assinam importantes projetos europeus
Quando entrevistei o famoso designer italiano Giorgetto Giugiaro, eu lhe perguntei porque um formato tão exótico de uma massa que ele projetara. “Muitos acham que foi idealizada fora do padrão habitual só para se tornar diferente. Mas o formato foi pensado com o propósito de absorver melhor o molho”.
Observei então novamente o formato do “macarrão” de Giugiaro e percebi (apesar dos meus parcos dotes culinários) que fazia sentido sua explicação e que realmente tinha textura e formato para reter melhor o molho. O que, obviamente, o tornava mais saboroso.
Lembrei-me dessa entrevista enquanto andava pela exposição “Beleza em Movimento” (organizada pela Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte) com criações do design italiano, desde sofás e panelas até esculturas e automóveis. Entre estes, duas das obras primas de Giugiaro: o Fiat Uno e o DeLorean (“De Volta para o Futuro”), dois carros sem nenhuma identidade aparente entre si mas que revelam a genialidade do designer em obter linhas fluidas e harmoniosas, porém funcionais qualquer que seja o propósito do objeto.
Mesma filosofia adotada no macarrão, que acolhe tão bem o molho como os dois carros acomodam seus ocupantes. Aí está a identidade entre os mais diversos objetos projetados por Giugiaro: a forma como consequência da função.
O mundo se curvou ao design italiano. Nenhum país reuniu tantos gênios do design em tantas áreas da criatividade. Na exposição estão mais de 100 peças entre esculturas, objetos e automóveis de cinco carrozieri icônicos: Giugiaro, Bertone, Pininfarina, Touring e Zagato. O curador da mostra é o alemão Peter Fassbender, diretor de design da FCA em Betim.
Se a Fiat tem um alemão dirigindo sua área de design, tem o reverso da medalha: a Volkswagen do Brasil exporta designers brasileiros para a Europa, como Raul Pires, que começou como estagiário em São Bernardo do Campo, mas foi depois para o Grupo VW como responsável pelo design da Skoda e, depois, diretor de design da Bentley.
Os irmãos (gêmeos) Marco Antonio e José Carlos Pavone sucederam outro brasileiro, Luiz Alberto Veiga, no centro de design da VW na Alemanha. Criaram, entre outros, o up! e o novo Jetta. Marco continua na Europa; José Carlos voltou para dirigir a área de design da VW do Brasil.
Num passado pouco mais distante, designer que se tornou figura icônica da nossa indústria foi Anisio Campos, que desenhou pelo menos quinze veículos entre os anos de 60 e 90. Foram carros de corrida, buggies (Kadron), compactos (Dacon), esportivos (Puma) e até restaurantes.
Assinou alguns projetos em conjunto com Rino Malzoni, entre eles o Carcará, um streamliner idealizado para bater o recorde brasileiro de velocidade, com mecânica do DKW.
Também destaque nos anos 60 e 70 foi Marcio Piancastelli, responsável pelo projeto do VW SP-2, esportivo lançado em 1972. Outros designers que marcaram presença foram Toni Bianco que projetou carros de competição e esportivos (Bianco Furia e Bianco Tarpan) na década de 70 e Mario Hoffstetter que criou e produziu, nos anos 80, uma “edição atualizada” do Mercedes Asa de Gaivota.
Rigoberto Soler, espanhol radicado no Brasil, foi responsável pelo Brasinca, esportivo com mecânica Chevrolet que teve cerca de 60 exemplares construídos na década de 60, os últimos chamados de Uirapuru.
Além de várias outras pequenas empresas que produziram esportivos, mas sem notabilizar seus designers: Miura, Santa Matilde, Farus, Chamonix, MP Lafer, Lobini e outros.
Não falta criatividade nem talento ao brasileiro. O que lhe falta é oportunidade. Quando ela (raramente) surge, ele demonstra toda sua capacidade criativa. Curiosamente, nos primórdios da nossa indústria, vários designers tiveram chances de se sentar à prancheta: projetavam para várias pequenas fábricas de carros de competição, esportivos, buggies, jipes e veículos transformados, que hoje não encontram mais espaço no mercado.
As oportunidades se reduziram, mas, por outro lado, quando surgem, projetam internacionalmente nossos designers.
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