Maybach Zeppelin DS8 1931: Sob o sol da Baviera
Nunca foi tão bom dirigir pelo sul da Alemanha do quando o fiz ao volante de um destes clássicos alemães, e a caminho de uma ópera de Wagner
Nunca foi tão bom dirigir pelo sul da Alemanha do quando o fiz ao volante de um destes clássicos alemães, e a caminho de uma ópera de Wagner
Imagine o prazer de dirigir um antigo conversível nas estradinhas da Baviera, no sul da Alemanha, num dia de verão, com a companheira ao lado. Imagine então se a viagem tiver como objetivo conhecer não somente o carro projetado para ser o melhor do mundo, o Maybach Zeppelin, mas também para assistir uma ópera de Wagner (Tannhäuser) no teatro construído por ele mesmo.
É a perfeita simbiose de clássicos…
Esse automóvel era um Maybach Zeppelin DS8 de 1931. É uma limusine conversível com quase 5,5 m de comprimento e três toneladas de peso empurradas por um inacreditável motor V12 de 200 cv, caixa de quatro marchas semiautomática a vácuo e freios acionados por cabo, porém servoassistidos.
Ópera de Wagner em seu próprio teatro não é para principiante. Os ingressos se esgotam entre quatro e cinco anos antes do festival de verão. E tem duração média de cinco horas com apenas um intervalo. Dirigir o Maybach (que pertence ao Museu da Mercedes-Benz) requer também uma aula antes de assumir o comando.
O DS8 significa “Doppel Sechs”, ou “Double Six”, ou V12 de 8 litros de cilindrada. Os mais sofisticados Maybach eram identificados na frente da grade com a inscrição Zeppelin, para lembrar que o motor era idêntico aos que equipavam os dirigíveis. Cursinho rápido para dirigi-lo: o pedal de embreagem está lá, na posição habitual. Mas só para arrancar, parar ou acionar a ré.
As quatro marchas sincronizadas são engatadas por duas pequenas alavancas opostas no centro do volante. Ao serem acionadas, nada acontece até que o motorista tire o pé do acelerador e volte a pisá-lo – quando um sistema de vácuo engata a marcha selecionada.
Motor e câmbio trabalham no mais absoluto silêncio, ao contrário dos ruidosos carros da época.
O painel do Maybach Zeppelin é completo: além de velocímetro e hodômetro, marcador do tanque (são “apenas” 135 litros para dar conta dos 3 km por litro), relógio (com corda para oito dias), marcadores de temperatura da água, pressão de óleo e vácuo dos freios.
Não adianta procurar macaco no porta-malas, pois tem um para cada roda, integrado ao chassi. E um compressor (movido pelo motor) para calibrar os pneus.
Depois de se acostumar com as posições das alavanquinhas, a vida ao volante do Maybach Zeppelin é até agradável. É pesado, mas os 200 cv o levam a 170 km/h (imaginem esta velocidade na década de 1930) na maciota. Fui de Nürnberg a Bayreuth, 80 quilômetros, em uma estradinha secundária (que graça teria numa autobahn?) cheia de curvas e subidas. Mas é tanto torque que deu para andar de quarta quase o tempo todo.
Só reduzia para cruzar as cidadezinhas no trecho. Numa velocidade de cruzeiro de 110 Km/h a 120 Km/h, o motor está abaixo das 3.000 rpm, o rodar é macio e a suspensão é firme e confortável. Para as quase três toneladas, os freios são eficientes, mas não aposte, numa freiada mais forte, de o Maybach parar numa linha rigorosamente reta.
Para o colecionador (ou excêntrico) que pensa em adquirir um dos cinco Zeppelin que sobraram – dos 12 ou 13 construídos à época – o principal problema é sua direção muito pesada, sem nenhum tipo de assistência. Vai bem na estrada, mas para manobrar… Haja muque! E haja também saldo bancário para bancar os milhões de euros que estão valendo…
O alemão Wilhelm Maybach, um gênio da mecânica, foi quem assinou os primeiros projetos para Gottlieb Daimler no início do século passado, surgindo daí os famosos automóveis Daimler e Mercedes. Anos mais tarde, em 1909, ele funda com seu filho Karl, a Maybach-Motorenbau GmbH (daí o logotipo com dois “emes”) especializada em grandes motores – entre eles o V12 para o dirigível produzido por Graff Ferdinand von Zeppelin.
Sua fábrica passou a produzir também automóveis (no início com chassis Mercedes) com motores de seis cilindros e acabou utilizando o V12 para um modelo especial, o Maybach Zeppelin, de 1930 a 1937. Ele só fornecia o chassi rolante e o cliente encomendava a carroceria em empresas especializadas (o da matéria foi produzida pela Spohn), um costume da época.
Com o início da Segunda Grande Guerra, a fábrica entrou em declínio e acabou sendo adquirida, em 1960, pela própria Daimler-Benz (rebatizada de MTU), que manteve a produção de grandes motores. Foi vendida anos depois e pertence hoje ao grupo Rolls -Royce.
A marca Maybach foi resgatada pela Daimler, que criou uma divisão para lançar em 2002 um sofisticado automóvel para concorrer com Rolls-Royce e Bentley. A ideia não vingou e a produção foi encerrada em 2012. Dois anos depois, a empresa decidiu batizar a versão mais luxuosa de seu sedã topo de linha, o Série S, como Mercedes-Maybach.
Boris Feldman também já dirigiu outros carros clássicos, como o Aston Martin DB6, muito parecido ao carro do James Bond. Veja o vídeo abaixo e conheça a seção de carros clássicos do AutoPapo.
Fotos Maybach | Divulgação
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Caro Boris, que experiência fantástica! Era muito avanço para a época, não? nos dias de hoje, fica imaginando o que seria equivalente a isso, teria que incorporar tecnologias espaciais para representar tamanho avanço, desempenho e exclusividade. Sensacional!