O motorista brasileiro, encurralado
A eficiência que falta para manter rodovias, sobra para instalar lombadas irregulares e radares que saqueiam o brasileiro
A eficiência que falta para manter rodovias, sobra para instalar lombadas irregulares e radares que saqueiam o brasileiro
O motorista brasileiro não tem por onde escapar. Na compra, no uso e na venda, é vítima da ganância de empresários acobertados pela leniência das autoridades.
Na compra do novo, o motorista brasileiro pode ser vítima da fábrica, concessionária ou da legislação precária. Se não conferir no porta-malas, pode descobrir mais tarde que o pneu sobressalente é de outra marca. Ou que foi vítima de propaganda enganosa e não encontra no carro o anunciado pela fábrica. A concessionária de padrão ético duvidoso oferece desnecessária proteção de pintura, já protegida desde a linha de montagem. Ou promete reparo de pintura defeituosa que jamais terá mesma qualidade que a original.
Se corre risco de ser enganado no carro zero, o usado dá margem a um cipoal de picaretagens. Hodômetro que deu “marcha-ré”, pneu frisado ou remoldado, “gatilho” na mecânica e até carro que já deu PT, brilhando de volta na vitrine…
Motorista brasileiro está certo de contar com uma legislação que exige segurança em seu carro novo. Está enganado: ela é falha, desatualizada e prova disso são as simulações realizadas pelo LatinNCAP, entidade independente uruguaia que classifica os modelos comercializados no Brasil de acordo com seu nível de proteção.
Nos testes de impacto lateral, por exemplo, muitos dos nossos compactos “tomam pau” e recebem apenas uma das cinco estrelas possíveis. O fabricante explica o fiasco sempre com o argumento de seguir a legislação brasileira. Às vezes, para atenuar o impacto da imagem negativa, corre para reforçar a carroceria…
Pode pagar pela gasolina aditivada e receber a comum. Ou adulterada. Aliás, uma das adulterações foi até oficializada por Dilma (para agradar usineiros às vésperas de sua reeleição) que autorizou subir o “batismo” com etanol para 27%. É gato por lebre, pois o álcool contem menos energia que a gasolina. Tem também posto desonesto que adultera a bomba e entrega menos combustível do que marca o visor. Mas são poucos fiscais para milhares de postos.
O mercado paralelo de peças exige muita atenção pois governo faz vista grossa para as picaretagens. Só se põe a mão no fogo se embaladas de fábrica (chamadas originais) pois no mercado paralelo tem de tudo. São confiáveis se fabricadas pelos fornecedores da fábrica. Mas também de fabricantes independentes que podem, ou não, oferecer mesma qualidade. Fora o fantasma das importadas de países asiáticos, de procedência e qualidade duvidosas. É salve-se quem puder..
A atuação do Inmetro, órgão do governo responsável pela normatização dos componentes de reposição, é escandalosa. Permite a remoldagem de pneus sem se identificar as características originais da carcaça. Já autorizou a recauchutagem de pneus para motos. Anunciou o controle dos componentes no mercado de reposição, mas elaborou uma minguada lista de 20 componentes que atende muito mais ao interesse do fabricante que do consumidor. “Esqueceu-se” de centenas de peças que comprometem a segurança (freio, transmissão, direção e suspensão), mas exigiu seu selo em componentes internos do motor. Pode?
Além dos absurdos impostos de circulação (IPVA), ainda enfrenta modalidade única no mundo: pagar o seguro obrigatório somente numa seguradora (Lider), monopólio que é verdadeira maracutaia e que – comprovadamente – já desviou bilhões de reais tomados à força e à forceps do motorista brasileiro.
O motorista brasileiro é presa fácil nas mãos das autoridades de trânsito e parlamentares coniventes com os empresários que inventam despesas mirabolantes para saqueá-lo. Já tivemos estojo de primeiros socorros, extintor de incêndio, curso para renovação da CNH e outras exigências estapafúrdias. Mas incapaz de tirar do papel a inspeção veicular e de regulamentar as cadeirinhas infantis.
Motorista brasileiro não escapa se não paga imposto. Mas sofre no bolso e na vida com as crateras asfálticas que danificam pneus, rodas e suspensão. E provocam acidentes. Falta eficiência na conservação da rodovia, mas não falta competência para instalar lombadas (quebra-molas) irregulares e radares. Estes, explicados hipocritamente com o objetivo de “educar o motorista. O brasileiro tem certeza de que se prestam exclusivamente para saqueá-lo…
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Podemos somar a isso parte da imprensa impressa ou digital que ao invés de informar, omite ou desinforma. Exatamente como na política, seja por fanatismo ou interesses escusos. Pseudo jornalistas que ao invés de informar com isenção, se prestam a favorecer determinada montadora e prejudicar outras porque recebem patrocínios, carros top em comodato ou ambos. Lamentável. Imagine um veículo que não publicou uma linha sobre a morte de Marchione porque isso poderia reverberar como elogio à FCA. Da mesma forma como omitiu prisões de membros do grupo vw pelo dieselgate. Não tenho nada contra a vw, pelo contrário. Isso mostra que esse veículo não tem independência jornalística, e portanto, não tem credibilidade para elogiar ou criticar um produto. Aqui, ao contrário, não há filtros, mas opiniões. Então, caro Boris, some a tudo o você bem colocou com a desinformação plantada. Meu primeiro estágio, há quatro décadas, foi numa montadora, depois trabalhei em mais duas. Nas primeiras na engenharia e na última no comercial. Ao todo forma 12 anos no setor. Conheço bem suas entranhas e tudo que são capazes de fazer. Testemunhei algumas bem cabeludas, numa época em que abrir o bico poderia fazer a montadora denunciá-lo como comunista. Voltando ao seu artigo, eu acrescentaria a lei-seca. Absolutamente necessária. Mas, ao contrário dos radares, ineficaz. Ao invés de comandos em vias, deveriam fiscalizar a saída de carros de bares e restaurantes. E não o fazem porque a polícia é “amiga” do proprietários desses estabelecimentos. E não precisa fiscalizar à noite. Eu vou algumas vezes por ano almoçamos num restaurante próximo da represa do rio grande (sbc), que faz um saboroso leitão no rolete. Possivelmente sou o único a tomar suco de laranja. Não é exagero que a maioria dos clientes saiam de lá bem alcoolizados. Depois, todos tem que voltar para casa pela via anchieta. Porque ninguém os fiscaliza? Porque PMs vão lá filar a boa boia. Uma mão lava a outra, em detrimento da segurança daqueles que não bebem e dirigem. Finalizando, não apenas o estado e empresas desonestas prejudicam os motoristas e proprietários de automóveis. E muita coisa errada. E nessa terra de ninguém, como alguns podem cobrar honestidade na outra ponta, se, na sua não cumpre a lei ou na falta dela usa de ética e bom censo?
jus esperniandi, caro Boris, esse teu artigo espelha o pensamento e a voz de 100% dos motoristas brasileiros , saqueados e ludibriados, diuturnamente, com informações enganosa pelas ”otoridades” [ grandes achacadores de impostos, taxas e etc… mas sem retorno] acompanhados de toda a quadrilha desse ramo automobilísticos oferecendo suas ”carroças a peso de ouro, [nos demais segmentos é a mesma vergonha] , pois isso é devido a fragilidade no cumprimento das nossas leis, onde que possuem ”pertences” e que jamais cumprem as penas que merecem , sendo assim gandaia se perpetua nesse pais . Veja nos EUA e Europa, as consequências do que está acontecendo com a Volkswagen gate abrçs
Somos tratados como bandidos. Aqui em BH é radar escondido pra todo lado. Tem pista de onibus sem sinalizacao. A gente tem q advinhar que a pista é exclusiva e não preferencial. Sempre tem um guarda “atento” te multando.
E ainda tem as taxas abusivas, “implantadas” nas guias de cobrança do IPVA: bombeiros, conservação de vias….
Muito difícil, triste e revoltante. A saída está no aeroporto mais próximo….