Dez anos do limite para isenção de ICMS. Parabéns pra quem?

O valor de R$ 70 mil estabelecido há uma década, se corrigido pela inflação, seria de aproximadamente R$ 121 mil hoje

velas aniversario triste
Por Alessandro Fernandes
Publicado em 21/02/2019 às 18h30

Dez anos é uma marca importante. Uma década! Meu sobrinho completou esta idade neste mês de janeiro e já se sente um rapazinho, maduro e responsável. Este ano, também irá completar esta idade o limite para aquisição de veículos com isenção de ICMS, que sofreu o último reajuste em julho de 2009. Só que o limite não está maduro, nem responsável. Está quase podre de tão defasado, e é uma irresponsabilidade de quem decide mantê-lo.

Está extremamente defasado porque no Brasil, apesar de o governo ter controlado a inflação galopante das décadas passadas, teve neste período níveis próximos a 6% ao ano de inflação em média. Consultando pelo site do Banco Central, descobri que a inflação acumulada, medida pelo IPCA, de 2009 para cá ficou em 72,45%. Portanto, o valor de R$ 70 mil estabelecido naquele mês de junho, se corrigido pela inflação, seria de aproximadamente R$ 121 mil hoje. Nada permanece congelado por 10 anos, nem salário, nem preço de nada.

Mas o limite de isenção de ICMS de R$ 70 mil permanece o mesmo, em pleno 2019. Para exemplificar, naquele ano comprava-se com este valor Toyota Corolla 1.8, Chevrolet Astra 2.0, Ford Focus sedan 2.0, Honda Civic 1.8, entre outros, todos com bancos em couro, rodas de liga leve e faróis de neblina.

Hoje, com o mesmo valor o cliente leva para casa um Toyota Yaris 1.5, Chevrolet Prisma 1.4, Ford Ka Sedan 1.5, e Honda City 1.5, todos com bancos em tecido, com pouca segurança, pouco espaço interno, porta malas pequenos e alguns com rodas de ferro e pouca tecnologia embarcada. Portanto, as opções passaram de sedãs médios completos a sedãs compactos pelados, com motores mais fracos, e muito menos conforto.

E na categoria dos SUVs a situação é bem pior.

Itens importantes

Tem gente que diz que deficiente não precisa de um carro de R$ 100 mil, que itens de conforto ou luxo não ajudam no dia a dia de quem tem limitação. Mas aí é que se enganam. Determinadas itens dos automóveis que podem ser considerados luxo ou acessórios supérfluos, podem sim ser importantes – ou até fundamentais – para auxiliar uma pessoa com deficiência na complexa tarefa de dirigir.

Acessórios como volante multifuncional e Bluetooth são úteis para quem utiliza adaptação e está sempre com uma das mãos ocupada acelerando ou freando, pois consegue controlar o som, atender e desligar o telefone, e até gerenciar o GPS sem tirar a mão do volante.

Bancos em couro são importantes para pessoas que sofrem de incontinência urinária. Sensor de estacionamento e câmera de ré são fundamentais para que tem artrodese na coluna cervical, que limita os movimentos do pescoço, em qualquer manobra ou estacionamento de ré. Apoio de braço central auxilia cadeirantes que precisam guardar a cadeira no carro por conta própria, pois podem apoiar o cotovelo ali ao trazer a cadeira para dentro do carro.

Direção elétrica e freio de mão eletromecânico ajudam quem tem pouca força nas mãos e braços. Itens de segurança, como controle de estabilidade e tração, mais airbags e distribuição eletrônica de frenagem, são importantes para todos os consumidores de automóveis.

E há inúmeros outros exemplos de itens que ajudam a diversos tipos de deficiência, e que não podem ser adquiridos devido ao limite de isenção de ICMS. Está cada vez mais raro encontrá-los nos veículos até este valor.

Além disso, pessoas com deficiência precisam de um bom espaço interno, pois muitas vezes instalam adaptações embaixo do volante, limitando o espaço para as pernas. Precisam de porta- malas grande para acomodar cadeiras de rodas e de banho, muletas, scooters ou outros aparelhos de auxílio à mobilidade.

Em 2009, para garantir espaço suficiente, muitos optavam pelas peruas, como Toyota Fielder, ou vans, como Scénic e Zafira. Hoje o lugar delas foi ocupado pelos SUVs compactos, que caíram no gosto dos brasileiros, inclusive daqueles com deficiência. Por serem carros maiores, se tornam muitas vezes fundamentais a quem tem deficiência.

Carros PcD

Como o mercado de venda de veículos para PcD cresceu muito nos últimos anos, as montadoras não querem ficar de fora deste filão e oferecem modelos específicos para serem adquiridos nesta modalidade, as famosas “versões PcD”.

Há modelos de vários segmentos nesta categoria, como sedãs e SUVs, e o que as montadoras fazem para manter estes veículos dentro do limite de isenção, é retirar diversos itens, de conforto, tecnologia e até segurança. E quando acabam estes itens, começam a retirar outros como tampa do compartimento de bagagem, pintura de para choques e elementos internos, e vários outros elementos para cortar os custos.

Só que, como citado anteriormente, muitos destes itens são importantes para as pessoas com deficiência. Portanto, para que os veículos fiquem com o mínimo de usabilidade e conforto, os proprietários são obrigadas a adquirir por fora diversos itens após a compra do veículo. Muitos ficam com medo de perder a garantia do veículo ao instalar tantos acessórios, e acabam pagando mais caro por eles dentro das concessionárias.

É tão gritante a situação que algumas delas oferecem kits específicos para serem adquiridos “por fora” após a compra do carro zero quilômetro, como a Honda que oferece o Kit Personal que acrescenta aos veículos sistema de som com Bluetooth, rodas de liga leve e câmera de ré. Só que este pequeno “kit” custa em torno de R$ 6.000.

Esses custos extras que o deficiente tem após a compra, somados aos valores que já gastam com adaptações, várias taxas e inspeções, reduzem drasticamente o benefício da isenção de impostos, e em muitos casos chegam perto do valor do desconto recebido – se é que já não o estão ultrapassando.

Além disso, após quatro anos, que é o prazo mínimo que a legislação exige para trocar de carro com nova isenção de ICMS, estas “versões PCD” irão perder ainda mais valor que os modelos comuns, pois a própria Fipe já estabeleceu valores diferenciados para esta nova categoria – menores que algumas versões mais básicas.

Além da perda de valor, podem surgir muitos gastos nestes veículos após os 3 anos de garantia que a maioria das montadoras dá. No último ano haverão gastos com manutenção e revisões, e ainda haverá uma grande perda no valor do carro na venda. E então, um bem de necessidade para quem tem limitação, será cada vez mais difícil de ser adquirido pela maior parte da população com deficiência.

Será que aumenta o limite para isenção de ICMS?

E porque não aumentam este limite para isenção de ICMS, afinal? A explicação mais recorrente é devido à perda de receita que irá gerar para os Estados, sendo que muitos já são considerados “quebrados”. Como abrir mão de receber milhões em ICMS se alguns deles estão lutando para conseguir pagar os salários dos seus servidores em dia? Por outro lado, será que os Estados não têm o dever ajudar quem tem necessidades específicas? Não vale a pena deixar de arrecadar por um bem maior?

Haverá uma reunião do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) no dia 30 abril deste ano, para decidir sobre a manutenção do convênio 38/2012, que estabelece a isenção de ICMS para PcD, e determina também o valor do limite desta isenção, que pode também ser alterado.

Só que, diante da situação caótica das contas públicas de alguns Estados, a torcida de muitos nem é pelo aumento do teto, mas sim pela manutenção do convênio, que pode também ser extinto ao invés de ser renovado. Só nos resta, como sempre, torcer pelo melhor.

Confira alguns carros

Fotos Divulgação

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30 Comentários
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gustavo 27 de maio de 2020

absurdo este teto de 70.000 uma com mobilidade reduzida que precisa de cadeira de rodas e alguns itens que eles diz que e luxo ,parabéns pelo comentário espero que este ano este bendito congresso reveja urgente

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Rodrigo 22 de abril de 2020

Adorei pelo esplêndido texto que ressalva nossas necessidades e limitações, aguardo ansioso a revisão do aumento do teto.

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Aldo Hugo goncalves Júnior 14 de fevereiro de 2020

Gostaria de saber qdo será a reunião para aumentar a proposta isenção ???
Att

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Mara Marques 24 de novembro de 2019

Existe idade máxima para adquirir carro pelo programa?

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Rafael 12 de novembro de 2019

Por favor verifiquem esta proposta parlamentar, apoiem e cobrem, já está em tramitação: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2200343

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DIRCELIO 21 de outubro de 2019

Prezados
Vcs teriam como informar se um câncer na bexiga, que causa uma incontinência urinária, da direito a isenção de impostos para PCD !

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Maurício 9 de outubro de 2019

Carro para deficientes deveria ser só para pessoas com poplema de locomoção mas infelizmente virou comércio conheço várias pessoas que conseguem comprar sem se quer ter deficiência ,acho sim não deve ter limites de valor mas mudar a forma de ser analisado , por exemplo para compra de carro no caso de filho com deficiência só se for cadeirante e no caso do motorista com deficiência só se tiver membros amputados ou ser cadeirante ou necessitar de moleta para se locomover não ser igual é hoje , e tornar crime a compra de veículo no nome de terceiros

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Célia Cavalcanti 2 de outubro de 2019

É um absurdo o valor dos carros com isenção, chega a ser humilhante ter direito só a carroças melhoradas.

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Rafael Marli 1 de outubro de 2019

O governo não perderia receita aumentando o limite de isenção, pois veículos mais caros demandam maior mão de obra na fabricação, ou seja, maior receita de INSS dos trabalhadores, consomem mais combustível, assim aumentaria a receita de impostos de combustível, etc.

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Jair erlacher 15 de agosto de 2019

Queria saber se aumentou o valor? Ou se ainda continua nos 70 mil ?

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Antonio Marcos 7 de junho de 2019

Me chamo Antonio Marcos sou deficiente físico sou de Guarulhos SP já fazem 4 meses que dei entra no processos para isenção do ICMS para compra de veículo e até agora nada isso e uma falta de respeito e uma vergonha.

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Alcides Antônio Francisco Filho 27 de maio de 2019

Teremos aumento de ICMS para 2020,para podermos adquirir um veículo mais completo?
Será que a Fiat Toro vai entrar na isenção de ICMS e IPVA que e o que mais pesa para nós Será liberada em 2020.
Grato

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Alessandro Ribeiro Fernandes 5 de junho de 2019

Não aposto em mais nenhum aumento, se até hoje ficamos sem, não duvido que adiem mais, ou quem sabe até extingam este benefício… A Toro, sem chance!

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Jose E Silva 26 de maio de 2019

Alessandro,

Bom dia. Fui ver um carro para PCd e o valor obviamente está acima do limite. Mas o pior é que além de não ter isenção de ICMS e Ipva tb não há isenção do rodízio em SP, segundo me disse o vendedor. Achei isso um absurdo . Está previsto na lei?

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Alessandro Ribeiro Fernandes 5 de junho de 2019

Sim José, a lei é estadual e em SP há estas limitações. Não tem o que fazer….

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Paulo Matos 3 de maio de 2019

.. o país não está quebrado, veja isso::
..
https://www.conjur.com.br/2019-abr-30/decisao-ipi-zona-franca-custar-900-milhoes

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marcos avelino 13 de abril de 2019

Gostei muito do artigo: abrangente, objetivo, posicionado, responsável, Parabéns!

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Emilio 10 de abril de 2019

Os Estados estão quebrados justamente ao fato de políticos ladrões montarem quadrilhas para roubarem.Se não existissem políticos SUJOS e LADRÕES este pais seria uma nação mais justa,com distribuição de renda para os mais necessitados.A maioria do povo ainda não sabe escolher seus governantes, sera difícil sair deste atoleiro que se encontra.

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Marcos Vieira 9 de abril de 2019

Parabéns e obrigado pelo excelente artigo! Precisamos pressionar as autoridades para que revejam esse teto absurdamente defasado!

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Helvio Puva 1 de abril de 2019

Olá boa tarde.

Parabéns pelo excelente texto, disse tudo que está entalado da garganta de todo deficiente que consegue adquirir esse item que no Brasil é considerado de luxo, mas não é. É sim uma necessidade básica de locomoção de todo Pcd

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Alessandro Ribeiro Fernandes 2 de abril de 2019

Obrigado Helvio. Temos que falar, expor a falta de consideração com o deficiente que impera em todas as esferas governamentais. Só quem sente na pele sabe o quanto é difícil nos locomover nas cidades brasileiras e o quanto é difícil adquirir um veículo neste país.

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Antonio Donizeti Martins 22 de fevereiro de 2019

O estado está quebrado (todos). Os bens públicos foram transformados em particulares. Particulares deles e a conta é do povo. “O ladrão comum rouba por sua conta e risco. Pode morrer num tiroteio com a polícia. Pode ser preso. Pode ser julgado. Pode ser condenado e pode cumprir pena. O ladrão poderoso rouba amparado pelas leis que ele mesmo faz e governa; por esta razão a justiça não o alcança”.

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Antonio Donizeti Martins 22 de fevereiro de 2019

Eu continuo achando que por R$ 70.000,00 menos os impostos, caindo aí o preço para aproximadamente R$ 54.000,00 dá para se fazer um veículo com mais qualidade e melhores condições. O problema é que as montadoras só querem saber de mais lucro. Do jeito que a coisa anda, eu estou esperando cair três zeros da moeda (KKK-se continuar do jeito que está não vai demorar), aí eu penso em comprar outro carro.

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Desconfiado 22 de fevereiro de 2019

Diante dessa tabela defasada a única coisa certa é o IPI, que me deixa uma duvida, se por exemplo tenho um carro comprado com isenção de ICMS e IPI, como o IPI da direito a isenção de 2 em 2 anos, será que posso adquirir um novo carro sem vender o que teve isenção de ICMS e IPI e ficar com os dois?

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Alessandro Ribeiro Fernandes 22 de fevereiro de 2019

Sim desconfiado, você pode comprar outro carro com isenção de IPI e continuar com o carro antigo. Só para o ICMS e o IPVA vale a regra dia 4 anos.

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Desconfiado 24 de fevereiro de 2019

Obrigado Alessandro, minha vontade é essa porque com essa defasagem da tabela creio que dentro de 2 dois anos não se tenha nada no mercado com valor interessante que contemple IPI e ICMS.

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Alessandro Fernandes 22 de fevereiro de 2019

Claro que é bom lembrar dos mais pobres, mas a alternativa que eles tem é o financiamento, pois carro no Brasil é caro, e entre comprar um carro de entrada que não atende suas necessidades e aumentar o prazo do financiamento para ter algum conforto e principalmente segurança, poderiam escolher pela segunda opção, lembrando que o carro com desconto não sai por 70 mil, e sim por 55 mil no máximo com as isenções. E este valor pularia para 60, 65 mil se o limite fosse maior, financiando 70% deste valor já dilui a conta para quem não tem tanta condição financeira. Sua ideia de dar o carro é ótima, mas quem bancaria isto? O governo que já se considera quebrado em alguns casos e já reclama de ter que isentar? As montadoras que pelam os carros para não ter que arcar com a diferença? Infelizmente esta é nossa realidade, e temos que jogar conforme as regras. Tem muito mais coisa errada, porém reclamando, divulgando os absurdos existentes e nos mobilizando, vamos conseguindo aos poucos mudar o injusto quadro social em que vivemos.

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Celio* 22 de fevereiro de 2019

Tá bom, mas é bom lembrar que tem o Zé Mané que não consegue comprar um carrinho qualquer que custa R$ 30.000,00. Ele também tem suas necessidades, você não acha?
O simples fato de alguém poder comprar um carro de R$ 70.000,00, mostra que ele tem capacidade financeira para colocar esses equipamentos que você diz necessários. Ou que tal fazer com que o pobre compre esses equipamentos e ganhe o carro? Não seria justo?
Ou então, que tal também dar um desconto para os pobres, da mesma forma que existe desconto para isso ou para aquilo?
Por que empresários ricos podem adquirir veículos com desconto, mesmo que o veículo seja para uso exclusivo de suas esposas?
Por que os que mais tem sempre tem as melhores regalias?
Sinto muito, mas quem pensa que o valor máximo de R$ 70.000,00 é pouco, nesse caso, nem merece desconto.

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marcos avelino 13 de abril de 2019

O valor de 70 mil receberá os aludidos descontos. O negócio fica em torno de $55 mil. Para um limite de $93000, um valor bem abaixo da inflação do período, o valor pago pela PCD seria em torno de 70 mil.

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Leo 26 de julho de 2019

Ta achando injusto o desconto para deficiente? É simples, porque você não corta um braço ou uma perna. Pronto, vai ter desconto.

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