Ford Modelo T: como é dirigir um carro de 110 anos
O primeiro flex do mundo apresentava comandos exóticos, se comparado com os padrões atuais, e prometia 20 cavalos de potência
O primeiro flex do mundo apresentava comandos exóticos, se comparado com os padrões atuais, e prometia 20 cavalos de potência
O Ford Modelo T comemora, em outubro, 110 anos de lançamento. Apresentado oficialmente por Henry Ford em 1908, tinha fama de seguro, simples, barato e simbolizou o nascimento da era do automóvel. O Ford T foi o meu primeiro carro antigo. Aprender a dirigi-lo foi uma emoção.
Apesar de ter as vendas iniciadas em 1908, foi a partir de 1913 que Henry Ford desenvolveu o processo de produção em série do Modelo T. Com sua mecânica simples e fácil de manter, o carro logo caiu no gosto popular. Lançado por 850 dólares, ele chegou ao último ano de produção, 1927, custando 290 dólares.
Em 1920, ele representava mais da metade dos veículos em circulação no mundo e somou mais de 15 milhões de unidades nos seus 19 anos de produção. O Ford Modelo T foi eleito o “Carro do Século” pela Global Automotive Elections Foundation no ano 2000, por um júri de 132 jornalistas de 33 países.
Entre seus primeiros proprietários estavam o cientista Thomas Edison. Em 1919, a Ford foi a primeira fabricante de automóveis a se instalar no Brasil, com a produção do Modelo T e do caminhão da linha.
Como já foi dito, o Ford T foi meu primeiro carro antigo. E assim como outros colecionadores, estava certo de que seria o meu primeiro e único.
Aprender a dirigi-lo foi uma emoção. Sim, aprender, pois seus comandos não têm rigorosamente nada a ver com os atuais. Essa era uma de suas virtudes: que graça teria se qualquer motorista tivesse condições de dirigi-lo?
O modelo T era chamado For-de-bigode ou For-de-pedal exatamente por seus comandos exóticos, pelo menos para os padrões atuais.
O automóvel contém três pedais, como qualquer outro carro com câmbio manual. Acontece que o Ford T era semi-automático e não tinha embreagem!
O pedal da esquerda engatava as duas marchas (isso mesmo, somente duas…). Pisado no fundo, engatava a primeira. Numa subida, pé embaixo o tempo todo para mantê-la engatada. Desativado, engrenava-se a segunda-marcha. No meio do curso, ponto-morto.
O segundo pedal, do centro, que hoje corresponde ao do freio, acionava a ré. Também só engatada com o pedal pressionado. O pedal da direita (atualmente o acelerador) era o freio. O termo é bem otimista: na verdade, um “ligeiro redutor de velocidade”…
E o acelerador? perguntariam os mais observadores. Ah, vem aí outro complicador e o “For-de-bigode”:
Duas alavanquinhas opostas na coluna de direção justificavam o apelido. A da direita era o acelerador. Na esquerda, o ajuste do ponto de ignição.
Até se acostumar, muita confusão, pois o motorista precisa desaprender a rotina dos carros modernos. No painel do Modelo T, a chave de ignição e um amperímetro. Precisa de mais?
O Desempenho era desalentador. Sua potência declarada, quando novo, era de 20 cv. Mas muitos já tinham morrido pelo caminho…
Digno de nota: o Ford Modelo T foi o primeiro flex do mundo, pois podia ser abastecido com gasolina ou álcool. Para tanto, o ponto do distribuidor era ajustado na alavanca esquerda do bigode. E a relação (estequiométrica) de gasolina ou álcool regulada por um botãozinho redondo à direita do painel. Puxado, era afogador. Girado, aumentava ou reduzia a proporção ar/combustível.
Foi meu primeiro. Mas claro que não foi o único antigo. Mantive-o na garage por uns bons quinze anos, por pura teimosia, pois não era exatamente adequado para incursões além de dois ou três quilômetros.
Faltavam pelo menos uns 30 cavalos e bom comportamento térmico da água do radiador, que, só de avistar uma subida, entrava em plena efervescência! Faltavam também janelas de vidro (eram de plástico) para evitar água de chuva e vento frio. Mas, o Ford Modelo T era uma festa para rodar devagar, no plano e tomando sol na careca com a capota rebaixada…
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Grande Burgos, símbolo de grande sabedoria na era Ford de 70′ 80′ e 90′.
Bons tempos foram aqueles.
Ops…
E quais carros antigos você tem hoje?
Sempre e bom saber sobre a história automotiva parabéns boris
Ótimo texto Boris!
Obrigado por compartilhar a experiência